quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Vidas

Meu nome é: AMNS
Sou filho de portugueses e nasci no Rio de Janeiro Brasil.
Não tinha ainda 2 anos quando um desentendimento entre meu pai e a minha mãe, acabou por leva-los a decidir em tribunal o meu futuro. O sr. Juiz vendo que não havia maneira de meus pais se entenderem mandou-me para um lar de rapazes.
Neste lar começou os meus piores pesadelos e o afastamento dos meus pais tornaram-me mais maduro e ao mesmo tempo uma criança triste numa infância triste.
Cresci neste ambiente até quase os meus 7 anos, carente de amor e carinho de mãe.
Com muita luta e sacrifício, e polícia pelo meio, meu pai conseguiu me tirar daquele lugar de desconfiança, medo, privações e abandono; sim nasci novamente, mas a carência de amor continuava. O meu pai não podia me dar o que ele não tinha e que não recebeu.
Durante muitos anos os meus amigos, vizinhos eram o que eu tinha mais próximo daquilo que se aproxima de uma família. Mas na verdade era: “eu tenho alguém mais me sinto sózinho” tirando o bom relacionamento e a amizade, sentia-me sempre só.
O meu pai vivia para o trabalho, era a única coisa que ele conhecia, quando o meu pai saia para trabalhar, eu ainda não tinha acordado, e quando eu ia dormir o meu pai muitas vezes não tinha chegado.
O meu pai arranjou-me uma madrasta , foi tudo menos minha amiga e o seu interesse era se livrar de mim, para dar a volta ao meu pai e ficar-lhe com o dinheiro, o que aconteceu 22 anos depois.
Aos 8 anos comecei a vender materiais escolares na escola, e fazer trabalhos de ofice-boy, aos 9 trabalhava na mesma função e fazia a faxina num prédio.
Comecei a faltar as aulas para poder brincar com os amigos, mas a medida que ia faltando, o trabalho aumentava.
Chumbei 2 vezes por faltas e por isso passei a estudar a noite e trabalhar durante o dia, quando não tinha trabalho pescava de rede na baia da praia da Bica e vendia o peixe para um café local.
Fui crescendo e a medida que crescia era mais explorado pelo mercado de trabalho, onde fazia horas e não era renumerado.
Assim na adolescência sonhava com reconhecimento, namorada, bens materiais, independência e gozar a vida como todos da minha idade.
Mas o que mais me fazia falta era a presença da minha desaparecida mãe e a sua explicação do que teria acontecido entre ela e o meu pai e o seu paradeiro.
Sonhava um dia ir a sua procura, mas tinha receio de magoar o meu pai, mesmo assim não sabia por onde procurar.
Os trabalhos, a exploração e os estudos acabavam e vinham, mas aquele vazio na minha vida continuava.
Tive muitos amigos e algumas namoradas passageiras, mas a minha verdadeira família foram sempre os meus , o meu pai nunca passou de um bom amigo, mas também ele tinha limitações nesta área; pois o meu avô também não o acarinhou e só fez cobrança e exigência do que ele deveria saer.
Durante a minha vida tive contactos com diversas religiões e cultos e aprofundei alguns assuntos da espiritualidade no qual apercebi-me de coisas não físicas, mas continuei a minha vida sem dar grandes importâncias a esse mundo que se abria a minha volta.
Durante esses tempos 16,17, 18, 19 anos, fiz diversos trabalhos, Papelarias, vendedor, fábrica de sorvete, fábrica de balanças, companhia telefónica, curso de canalizador construção civil e terminei o meu 9º ano e continuei o cientifico (inacabado).
Em 1985 fiz a minha 1ª viagem a Portugal, o que foi muito marcante na minha vida, conheci a minha tia que era irmã da minha avó que não conheci.
Fiquei fascinado com a paz sentida em Santarém, e me senti próximo de meu pai de uma maneira que nunca tinha sentido antes.
Foram momentos muito importantes na minha vida, momentos que me fizeram pensar numa melhor hipótese de vida, longe da criminalidade e insegurança que eu vivia no Rio de Janeiro.
Ao voltar para o Brasil, a realidade voltou a minha vida, o avião ainda não tinha pousado, e um véu de tristeza descia sobre o meu ser.
O tempo tomou o seu lugar em minha vida e aquela vidinha de trabalho sem futuro se reiniciou para minha infeicidade.
Na minha cabeça tudo mudou, a minha insatisfação aumentou, mas de uma forma diferente, pois agora já sabia o que eu não queria, e passar o resto da minha vida no Brasil não era o meu ideal.
Voltei a trabalhar numa fábrica de confecções e lá apaixonei-me por uma colega de trabalho, durante este tempo recebi a notícia através de meu pai, que a minha mãe estava morta e enterrada, e que o óbito tinha sido há poucos dias.
A notícia caiu em cima de mim como se fosse uma bomba, não me lembro de sofrer tamanha dor em minha vida.
Senti-me mal comigo próprio e culpei-me por não ter coragem de ir a sua procura, mais tarde soube que ela viveu uma triste vida a pensar onde eu estaria.
Durante este tempo estava a estudar para provas de inserção na Aeronáltica, e tinha provas sobre motores a reacção e segurãnça aére e pressorização, mandei tudo para o ar, diantes dos testes e das perguntas que se apresentavam diante da minha pessoa, senti as lágrimas a descerem em forma de rio pelos meus olhos sem que eu pudesse controla-las, abandonei a sala de provas sem responder uma única pergunta, e regressei a casa para curtir uma depressão, assim que me recompus, fui atrás da minha paixão, que neste momento estava mais preocupada com a sua idade de 24 anos e procurava melhor partido do que eu, ela queria alguém que tivesse uma casa e não um Ford Corcel 73.
Mais uma vez mandei tudo para o espaço, inclusive o emprego, comecei a trabalhar com um amigo na criação e produção de Tshirts e produtos de Surf, e criei o meu negócio de fabrico e produção de papagaios (pipas).
O meu amigo era muito mulherengo e do tipo noturno, o que o levou a deixar de cumprir horários. Mas uma vez dei um basta, e fiquei um tempo vivendo do meu negócio de papagaios.